FILOSOFIA NA VEIA
Ensino de Filosofia Emancipador Transgressivo
quinta-feira, 17 de julho de 2025
Meu amor,
quinta-feira, 3 de julho de 2025
O Efeito das Pessoas Abrasivas
Por: Atualpa Ribeiro
Não sei exatamente o que acontece. Ainda vou conversar sobre isso com o Luiz, talvez ele me ajude a entender. Mas diante de certas pessoas — como essa garota que trabalha comigo — algo em mim se retrai. São pessoas que se posicionam com firmeza, que falam alto sem necessariamente levantar a voz, que caminham entre os outros como se o mundo lhes devesse alguma explicação.
Não as chamaria de arrogantes, mas há nelas um tom... abrasivo. Um jeito de existir que fere de leve, como lixa fina passando na pele. E o que faço eu, com meu temperamento enérgico, minha vontade de me impor? Me encolho. Me afasto. Evito o confronto como quem evita uma febre anunciada. Não por covardia, acho — embora às vezes me questione —, mas por receio de tropeçar nas palavras, de me perder no calor do embate, de parecer frágil exatamente onde gostaria de ser firme.
Freud talvez explicasse. Lembro de um texto dele, "O Estranho". Nele, fala sobre o desconforto que sentimos diante do familiar disfarçado. Talvez seja isso. Essas pessoas me soam excêntricas, sim, mas não totalmente estranhas. Há nelas algo que reconheço, uma coisa que talvez eu queira — não ser, mas ao menos possuir. Como a calma para argumentar, por exemplo. A precisão. A frieza útil.
Talvez eu admire nelas o que me falta, e é esse espelho torto que me desconcerta. Quem sabe o que me incomoda não seja o outro, mas o que o outro me mostra de mim mesmo.
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Entenda a depressão ou pereça
Por: Atualpa Ribeiro
Nos últimos dias, tenho comentado com colegas de trabalho, com minha esposa e até com minha terapeuta sobre o livro que estou lendo: "Uma Biografia da Depressão", de Christian Dunker. A leitura tem me feito refletir profundamente sobre como essa doença, mais do que uma condição clínica, parece atravessar séculos como uma expressão do sofrimento humano, uma espécie de "doença da alma".
Segundo o autor, em todas as épocas surgiram fenômenos sociais, culturais e espirituais que, de alguma forma, alimentaram o que hoje chamamos de depressão. Na Antiguidade, ela era conhecida como bílis negra — uma das quatro substâncias que, segundo a teoria dos humores, regulavam o corpo e o espírito. Ao longo do tempo, essa "melancolia" foi ganhando novas roupagens: na Idade Média, esteve ligada ao pecado e ao medo do inferno; no Renascimento, apareceu nas obras dos artistas e poetas como um traço do gênio criativo; e, a partir da modernidade, passou a ser vista como um problema psicológico ou psiquiátrico.
Durante os séculos XVIII e XIX, a depressão passou a ser institucionalizada dentro da medicina e da psiquiatria. Porém, ao invés de ser compreendida em sua complexidade, ela muitas vezes foi isolada em diagnósticos e tratada de forma fragmentada. No século XX, com o avanço da indústria farmacêutica, surgiu a crença de que pílulas seriam capazes de curar ou ao menos estabilizar o humor humano — uma promessa que, infelizmente, ignora as dimensões sociais e existenciais do sofrimento.
Dunker mostra como diversos acontecimentos históricos contribuíram para esse cenário: a opressão religiosa que impunha a busca por um céu quase inalcançável, a caça às bruxas, a transição do ser para o fazer — do valor intrínseco do ser humano para sua produtividade —, a ascensão do liberalismo econômico, a promessa de um progresso que nunca chegou para muitos, entre tantos outros fatores. Tudo isso alimentou um vazio interior, uma desconexão com o sentido da vida.
O autor compara a depressão a um deserto que, pouco a pouco, invade o espírito humano. Ela não chega de forma abrupta. Muitas vezes começa com um desânimo sutil, uma perda de interesse por atividades antes prazerosas, uma tristeza que se instala sem grandes explicações. É como se a vida fosse, lentamente, perdendo o sabor.
Na contemporaneidade, vivemos sob a lógica do desempenho, da produtividade e da exposição constante. Trabalhamos cada vez mais, acumulamos funções, projetos, metas e... postagens. Somos constantemente medidos por currículos, números, visualizações e likes. E, nesse ritmo, trocamos a experiência genuína da vida por uma performance incessante. Essa recusa, muitas vezes involuntária, de viver plenamente é um dos gatilhos mais sutis — e perigosos — da depressão moderna.
Por fim, a leitura do livro tem me feito entender que a depressão não é apenas uma questão individual, mas uma condição profundamente ligada à história da humanidade. E talvez, mais do que curá-la, seja preciso escutá-la. A depressão, como nos mostra Dunker, pode ser uma forma de resistência silenciosa a uma sociedade que nos exige demais e oferece pouco em troca.
Deprimir é inescapável, mas podemos entender, tratar e aprender a driblar esse "demônio".
Meu amor,
Hoje eu quero te escrever não para lembrar o que você já faz todos os dias com tanto amor e entrega, mas para que você saiba que eu vejo. Eu...
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