Por: Atualpa Ribeiro
Não sei exatamente o que acontece. Ainda vou conversar sobre isso com o Luiz, talvez ele me ajude a entender. Mas diante de certas pessoas — como essa garota que trabalha comigo — algo em mim se retrai. São pessoas que se posicionam com firmeza, que falam alto sem necessariamente levantar a voz, que caminham entre os outros como se o mundo lhes devesse alguma explicação.
Não as chamaria de arrogantes, mas há nelas um tom... abrasivo. Um jeito de existir que fere de leve, como lixa fina passando na pele. E o que faço eu, com meu temperamento enérgico, minha vontade de me impor? Me encolho. Me afasto. Evito o confronto como quem evita uma febre anunciada. Não por covardia, acho — embora às vezes me questione —, mas por receio de tropeçar nas palavras, de me perder no calor do embate, de parecer frágil exatamente onde gostaria de ser firme.
Freud talvez explicasse. Lembro de um texto dele, "O Estranho". Nele, fala sobre o desconforto que sentimos diante do familiar disfarçado. Talvez seja isso. Essas pessoas me soam excêntricas, sim, mas não totalmente estranhas. Há nelas algo que reconheço, uma coisa que talvez eu queira — não ser, mas ao menos possuir. Como a calma para argumentar, por exemplo. A precisão. A frieza útil.
Talvez eu admire nelas o que me falta, e é esse espelho torto que me desconcerta. Quem sabe o que me incomoda não seja o outro, mas o que o outro me mostra de mim mesmo.
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