segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A concepção de esclarecimento de Kant


      Kant viveu no período do Iluminismo, movimento intelectual ocorrido na Europa, no século XVIII, que é marcado pelo paradigma da subjetividade e pela busca do esclarecimento. Francisco Falcon em seu livro Iluminismo (1994) salienta que a Metáfora das Luzes pode-se compreender nem como simples acontecimento geográfico e temporal, nem como mero movimento intelectual, tampouco como modismo de época, mas, antes, como caminho de esclarecimento, ou seja, como o processo progressivo dos seres humanos por meio do qual são capazes de pensar por si mesmos.O pensamento elaborado pelos iluministas (Montesquieu, Diderot, Jean-Jacques Rousseau, Voltaire) foi de libertação. As pessoas deviam libertar-se do pensamento dominante provindo da tradição, tanto com relação às crenças religiosas, como também com relação aos déspotas da época. Para se livrar dessas amarras, surge uma crença ilimitada no poder da razão. Assim, para os pensadores iluministas, a razão é capaz de evolução e de progresso do ser humano, libertando-o das amarras sociais e morais que o deixavam num certo obscurantismo.
      Continuar com o modo de pensar provindo da tradição, continuar a obedecer a um determinado tutor, como era comum na época, seria permanecer na obscuridade e no estado de menoridade. O Iluminismo foi um projeto de emancipação do ser humano de todo tipo de tutela. Cada um deveria ser capaz de pensar por si mesmo. O Iluminismo caracteriza-se, por conseguinte, pela dúvida e pela crítica a tudo quanto carece de comprovação fática, tornando-se, assim, o conhecimento, a chave de dominação da natureza. O filósofo que expressa de forma mais coerente, em sua filosofia, o conceito de esclarecimento no período do Iluminismo foi Kant (1783) em seu escrito Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? (Aufklärung) em resposta à academia de Berlim. Aquiesça o tradutor da obra, o filósofo brasileiro, Luiz Paulo Rouannet, aclara que foi o primeiro escrito filosófico em seu teor a dirigir-se ao grande público. Não obstante, Voltaire e Rousseau, falarem do uso da razão, contudo não se referem à coletividade. 
      Entretanto, de forma mitigada a mensagem em alguns pensadores aparece como em Éttine de La Boétie (1530-1563) contemporâneo de Montaigne escreveu “Da Servidão Voluntária” onde fala que a culpa, a responsabilidade pela servidão é dos próprios homens. O francês Rousseau menciona na obra “Discurso sobre a origem e fundamentos da desigualdade” entre os homens, dessa forma, “os homens nasceram livres, mas encontram-se em toda parte acorrentados” em consonância com o ideal de libertação do homem. Analogamente no período clássico, Platão é o representante desse desprendimento da alma das correntes da ignorância imposta por outrem em prol da busca pela verdade no “Mito da Caverna”. 
      A singularidade kantiana está em lançar esse chamado a todos indiscriminadamente incitando as pessoas a fazerem uso público da razão. Nesse sentido, na passagem: “que um público, porém, esclareça a si mesmo é ainda assim possível, é até se lhe deixarem a liberdade praticamente inevitável”. Kant refere-se e mais uma vez contraria a época com sua “visão cosmopolita”, devido sua concepção de “homem universal”, sem raças, sem diferenças étnicas expressa na obra “Ideia de uma história universal sobre o ponto de vista cosmopolita” onde diz que “somos um grande todo” (KANT, 1974). 
     Para Kant, o esclarecimento (Aufklärung) é visto da seguinte forma: “Esclarecimento (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento (Aufklärung)” (KANT, 1974).
      Desse modo, as duas principais causas da permanência do indivíduo na menoridade são a preguiça e a covardia, pois é cômodo, confortável e agradável ficar na menoridade, de tal modo que, às vezes, vários ficam nesse período durante toda sua vida. “Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora incapaz de utilizar seu próprio entendimento" (KANT, 1974). Para Kant quem, em meio à sociedade, quisesse dar esse salto para sair da menoridade sentir-se-ia certamente inseguro, porque não está habituado com este movimento livre. 
      “O diretor espiritual tem consciência por mim, médico escolhe a dieta que devo seguir, o livro faz as vezes do meu entendimento” são exemplos de tutores expostos por Kant, pois torna-se mais apraz pagar do que esforçar-se em exercer essa penosa prática. Nesse sentido, “outros cumprirão, farão os negócios desagradáveis”. Conforme, o filósofo, a passagem para a maioridade revela-se difícil e perigosa, haja vista, a supervisão e manipulação através dos perigos apresentados pelos tutores e após exemplos ficam temerários em andar sozinhos. A peçonhenta tutelagem envenena de forma sorrateira homens e mulheres com o embrutecimento e preservação da tranquilidade transformando-os em “gado doméstico”. Propondo a ordem: nenhum passo fora do carrinho. A menoridade impregna nos tutorados, tornando-se sua própria natureza, já que se acostumaram com os “preceitos, fórmulas, instrumentos mecânicos racionais” sendo estes “grilhões de uma perpetua menoridade” (KANT, 1974).
      Kant enuncia que mesmo se houver libertação dariam, apenas um salto tímido e apequenado, tendo em vista não estarem habituados com a liberdade. Portanto, constata-se a escassez dos que conseguem “empreender uma marcha segura” pela “transformação do próprio espírito” nessa passagem. Sendo a vocação de cada homem pensar por si mesmo observa-se o pensamento próprios até entre os tutores. Todavia, Kant alerta para o risco de fecundar preconceitos, porque terminam por despertar certo “sentimento de vingança” e uma vez livre o público obriga os tutores a retornem ao julgo que um dia foram algozes. Por conseguinte, “novos preconceitos servirão, assim como os velhos, de amarras para conduzirem a grande massa desprovida de pensamento” (KANT, 1974). Logo, a máxima disseminada pelo oficial, financista e sacerdote é esta: “não raciocineis” (KANT, 1974).
      Embora, o referido filósofo almejasse alastrar por toda parte as luzes da razão e estimular os homens a fazerem uso pleno do seu próprio entendimento sem se submeter a tutela, propõe a distinção entre as formas deste uso. Por isso, tipifica-o entre a razão pública (somente por este pode realizar o esclarecimento) e privada (este não é impeditivo notadamente para a evolução do esclarecimento). Kant elucida a impossibilidade da negação ou renúncia do progresso do homem pelo esclarecimento, pois este pode procrastinar, mas abdicá-lo estaria indo contra sua própria natureza. Caso abandone estará “ferindo e calcando aos pés os sagrados direitos da humanidade” (KANT, 1974).
      O uso privado da razão consiste, na visão kantiana, em uma prática restrita e funcional cuja a limitação não entrava o esclarecimento. Essa razão particular é exercida em determinada instituição como o soldado no exército, o padre na religião ou até mesmo um professor na escola, pois devem respeitar diretrizes. Porém, enquanto intelectual essas pessoas podem exercer a um público mais amplo a liberdade de crítica. Os superiores devem absorver de forma sensata tais críticas para o bom andamento e crescimento da instituição, recomenda Kant.
      O pai do criticismo postula: Obedecei! Pois, reconhece a necessidade da criação de leis. O homem possui instinto e razão, tendo a razão seu predomínio, no entanto não há nenhuma garantia, então as leis devem existir para garantir minimamente o bom convívio entre as pessoas. Apesar dos regulamentos “qualquer contrato que proíba o esclarecimento, sua passagem ou busca é nulo, sem validade. Já o uso público da razão apresenta como cerne a liberdade cujo o exercício faz avançar o processo de esclarecimento. Kant deixa claro que, o ser humano não nasce esclarecido. Ele precisa compreender-se inserido no processo educativo com tal finalidade. Numa palavra: o ser humano tem condições para se libertar das amarras que o aprisionam na menoridade, sendo-lhe possível, portanto, por meio da educação, alcançar o almejado esclarecimento. A educação possibilita a saída de seu estado de menoridade e faz com que o sujeito atinja gradualmente a maioridade, tornando-se autônomo e suas ações livres de recompensas.

      Kant apresenta-se angustiado, tento em vista a dificuldade que os homens possuem de fazerem “uso do seu próprio entendimento, mesmo em matéria religiosa sem o auxílio de tutores” (KANT, 1974). As últimas considerações do artigo, o prussiano, elogia o Rei Frederico II devido a maneira livre e esclarecida que guiava seu governo principalmente no aspecto religioso, onde o pensador diz ser a mais danosa e prejudicial espécie de tutela. 
      Assim, o grande desejo de Kant é a emancipação dos indivíduos por meio da razão desprendida de vícios rumo à autonomia moral preservando o direito à liberdade e à dignidade do ser humano. Em outras palavras, Kant quer a saída de todos da menoridade para ir em busca da maioridade, ainda que tomar e assumir a postura de pensar por si mesmo seja difícil e complexo, já que seria sempre mais cômodo permanecer na menoridade, deixando-se guiar por outrem.

Referências 

KANT. Resposta à pergunta: Que é o Esclarecimento? In: Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974.

domingo, 6 de novembro de 2016

O Velho Nietzsche continua VIVO!

Como não gostar desse pensador livre que não admite rótulos, pois sua existência e todo o seu legado vai além das marcas conceituais e preestabelecidas da "filosofia". 


João e o jeito camaleão de ser!

      João vive sua agitada rotina. Mas, ele intriga-se com suas relações amorosas ou melhor encabula-se com o modo que trata as mulheres. Muito gentil, carinhoso, prestativo, romântico a moda antiga, porém encontra defeito em todas. Não porque queira, mas é da sua natureza tentar adequar as mulheres ao seu molde. O estilo camaleão reside em seu espírito, tendo em vista o imperativo da mudança que o consome dia à dia e torna sua existência uma extensão dos outros. 
      Outro dia um amigo, desses que a gente encontra em viagens e se entrosa logo, disse ao João que não se preocupasse com isso, pois é costume os amantes fazerem ou quererem que o outro (a) se adapte ao seu jeito. João se tranquilizou, mas ele antipatiza de imediato quando a mina não tenta metamorfosear. Ele respeita as opções e trejeitos das “donzelas”. Só que não desce certas atitudes as vezes rudes, outras infantis que algumas possuem como o fato de serem apegadas a mãe, não gostarem de hábitos polidos rsrsr... ele sempre menciona essa palavra POLIDEZ. Ele se acha as vezes e por vezes não cumpre o que sugere. Paciência! 
      Alguns falam que ele tem dedo podre... mas, o que João quer uma mulher que se adapte e vice-versa, que tenha espírito camaleão. Que goste de estudar, seja polida, fineses, e toda essa baboseira, que se arrume para ela mesma, que absorva suas dicas e ele as dela. João deseja encontrar alguém que entenda seu projeto de vida. Ele sempre as entende, todavia não vê motivo para seus amores não o compreenderem. Afinal, relacionamento implica renuncias e aceitações. 
      João, decidiu que não vai procurar mais. Sim, ele está com alguém e esse alguém já o antipatiza. Alô! Senhor Destino, é assim que vai ser. João cansa! João é gente.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

João também é gente!

       Vivo hoje um impasse. Mas, resolvi voltar a escrever e denominar outra finalidade para esse blogger, este servirá como um diário, sei que é antagônico e juvenil esta ideia para um veículo que se propôs ser genuinamente filosófico, porém escrever desopila a mente. Desse modo, começo dizendo que estas histórias são motivadas por situações que observo na rotina de meus colegas e até mesmo em conversas com familiares e amigos e porque não dizer ainda, dos amores que vivi. 

       O impasse que mencionei a pouco aconteceu com o João. Consistiu na constatação da incapacidade do ser humano de reconhecer o trato que outrem proporcionou, isto é, por vezes ele se deparou com pessoas que as quais ajudou e recebeu em troca supetões, “pauladas” verbais e adjetivos na forma de “chutes”. Estou farto! João, trabalha duro e agradece a Alguém ter concedido ânimo e ousadia para agarrar cada uma dessas oportunidades. E como recompensa recebeu isso? Não que o João esteja buscando honrarias em forma de meritocracia, longe do João, mas ele exige a decência e o respeito ou até mesmo o mínimo de Humanidade dos outros para com ele. 

       João, hoje, continua ajudando os outros como pode, no entanto, sem o encanto que uma vez possuiu no Humano, pois este deixa de ser humano a cada sucateamento relacional que vivencia. Dizem ao João que ele não pode reclamar, todavia se esquecem de entender e perceber que ele cansa, se chateia de ouvir dizer o que ele deve praticar. João está cansado. João cansou.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Terrorismo, um ato bárbaro

O terrorismo deriva-se da palavra terror, ou seja, é um ato que envolve tragédias, sofrimentos, tristezas e mortes. É algo que a sociedade vem sofrendo no passar dos anos, pois estas ações originaram-se desde a antiguidade. Nesse sentido, percebe-se que há um certo motivo que influencia as pessoas a cometerem estes atos desumanos, como por exemplo: existem grupos radicais mulçumanos que interpretam o Alcorão (livro sagrado do islamismo) erroneamente e acreditam que devem destruir os impuros e acham que se eles se sacrificarem em nome de Alá (Deus) terão um lugar no paraíso. No entanto, são motivados pela própria religião, mas isto ocorre a partir da ideologia de cada pessoa, pois a doutrina islã prega a paz e não a desunião, o sofrimento. Desse modo, o terrorismo é infelizmente um ato que convive com a população mundial, é uma prática que tem frequência em acontecer. Neste ano de 2016 em Orlando, nos Estados Unidos, um atirador (terrorista) matou 49 pessoas e 53 pessoas ficaram feridas numa boate gay. Portanto, medidas são necessárias para resolver o impasse. Umas das soluções seria promover várias campanhas contra o terrorismo, fazer palestras pelo mundo, criar acordos com os grupos radicais, para que os ataques fossem reduzidos, pois só no ano de 2014 houve um aumento de 81% de mortes em atentados, sendo uma porcentagem muito alta no mundo.

sexta-feira, 4 de março de 2016

O Mito como Forma de Filosofar

Por: Francisco Atualpa Ribeiro Filho O mito faz parte da história humana desde os primórdios e nunca deixou de estar presente: seja na pré-história, onde as pinturas rupestres tinham um significado mágico, seja para explicar algo aparentemente aporético, ou até mesmo pela simples necessidade humana de criar “ídolos”. Desse modo, o mito é um “relato das origens” e que, enquanto tal, tem uma função de instauração: só há mito se o acontecimento fundador não tem lugar na história, mas num tempo antes da história. O mito diz sempre como nasceram as coisas, as instituições, as regras etc. Este modo de “esclarecer” a realidade tão misterioso devido, as personagens não serem seres humanos, pois são deuses ou heróis aperfeiçoados e civilizadores. Com isso, dizer um mito é proclamar o que se passou desde a origem. Uma vez revelado, o mito torna-se verdade absoluta. Nesse sentido, o mito se institucionaliza e torna-se indubitável: é assim porque dizem que é assim. Podemos afirmar então, que o mesmo embora criado pelo homem torna-se “racionalmente ingênuo”. Porém, não devemos conceber o mito apenas como “faz de conta”, que esgota a realidade nele mesmo, tendo em vista que muitos filósofos como Platão, Theodor W. Adorno (mito de Ulisses e as sereias), Leonardo Boff (mito do cuidado) souberam de forma alegórica contextualizar e filosofar com tais narrações, dando assim uma roupagem reflexiva e impactante. Dessa maneira, uma das contribuições de Platão é o mito da caverna. Segundo o pensador, a maior parte da humanidade se encontra como prisioneira de uma caverna, permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido essa luz que entra na caverna, os prisioneiros contemplam e ficam inebriados com as sombras que formam a realidade. O grande problema é que, as pessoas conformam-se ao ver essas projeções e as tomam como se fosse realidade. Mas quando um deles consegue desamarrar-se e ao sair da caverna acostuma-se com a luz, passa a enxergar as coisas, os seres e não suas sombras. A parte mais difícil do mito é convencer os outros moradores da nefasta caverna, que estão conhecendo apenas as sombras da realidade: uma ilusão. Para Platão, essa é a tarefa mais penosa do educador, a tentativa de resgatar das sombras os amigos. Mais de 23 séculos nos separam do referido filósofo, no entanto a metáfora continua a “incomodar” como uma “pedra no sapato”, nos chamando à reflexão. Já que, nos tornamos prisioneiros de nossas próprias cavernas, que são criadas por nós mesmos, a saber: parte dos programas e noticiários de TV, a globalização em demasia, a desordem das redes sociais, a própria internet com seus sites pornográficos, o videogame. Assim sendo, quase sempre de maneira inconsciente, habitamos um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas, levando-nos a crer que estamos sem saída. Entretanto, filósofos, políticos, professores amiúde sinalizam o caminho para a fuga dessas cavernas escuras. Porém, nós os tachamos de caretas, loucos, medievais. Quem sabe o interior da caverna seja mais aconchegante e quieto!

Confira cada produção acadêmica por meio das imagens (basta clicar na capa) abaixo:

  Filosofia na veia: reflexões e experiências Francisco Atualpa Ribeiro Filho Organizador e autor Com imensa satisfação, compartilho este li...