terça-feira, 17 de setembro de 2019

Assistência social: Direito do Povo, com Financiamento Público e Participação Social

       --- Maria, vamos logo, senão vamos atrasar pra ver a palestra. Fala Daiane ao passar em sua porta. Em seguida saem do quarto os quatro filhos de Maria, colocaram a melhor roupa, o mais velho pergunta: --- Vai ter almoço mãe? Maria responde sem titubear: --- Sim José, vai sim! A comida é sempre boa lá na cidade. Mas, vamos logo, deixe de muita prosa. Caminha, passa logo que o carro chegou. Ao todo na casa de Maria moram 8 pessoas. Partem rumo a mais uma Conferência Municipal de Assistência Social.
         Há muitos anos que o direito deixou de ser moeda de troca pelo menos na lei. Tudo bem! Não faz tanto tempo assim. Apenas 30 anos, isso mesmo. Desde a Constituição de 1988 apelidada de "Constituição Cidadã" devido garantir e proteger direitos a todos sem distinção de classe social, seja ele branco, preto, amarelo, índio, caboclo, independente de sua crença religiosa. 
       Liberdade, segurança alimentar, água potável, oportunidade de trabalho, saúde, educação e segurança não constituem benefícios que o governo pode barganhar como fizeram na Era Vargas, por exemplo. São direitos assegurados por lei e como está na legislação os gestores devem cumprir. 
           Ouvimos falar nas redes sociais, na televisão, no rádio e até em discursos inflamados em época de eleição em igualdade. Enchem o peito e gritam: "É preciso ter igualdade, somos iguais", como o conceito se resumisse na posse da palavra ou de um momento qualquer. Não! Temos que deixar claro que a igualdade deve ser substituída por equidade. Vocês não ouviram errado não. EQUIDADE! Para facilitar podemos associá-la ao conceito e atitudes de quem age com justiça. 
           Imaginemos uma partida de futebol e muitos querem ver. Porém, uns nasceram com o tamanho ideal, outros menores e existem aqueles que são deficientes físicos. Então, como coordenador do evento decido conceder assentos para todos na mesma fileira, contudo não tenho a sensibilidade de perceber que logo a frente tem um alambrado que impede a visão daqueles que não são tão altos. E agora? Fiz minha parte como gestor? Sim, podem dizer e de fato fez se pensarmos no assistencialismo, mas hoje temos que incluir todos. Lembram? Por isso, decido oferecer a todos oportunidades adaptáveis às suas necessidades. 
            Os que já nasceram em uma família estruturada, com uma estabilidade financeira não necessitam que o Estado se esforce e gaste tanta energia e insumos, todavia existem pessoas que precisam que os governantes trabalhem e criem oportunidades para que possam viver cada direito sem nenhuma espécie de negligencia. Podemos conceder bicicleta a todas as crianças, mas e aquelas que nasceram com algum problema motor? Assim, temos que pensar em estratégias para adaptar esse veículo para essa criança e fazer com que ela se sinta parte da sociedade. 

            Equidade, justiça social e inclusão foram os conceitos que proporcionaram discussões, lutas e criação de novos posicionamentos ao longo dos anos até que em 7 de dezembro de 1993 surgiu a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social), lei nº 8.742. Somente em 2005, é instituído o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, descentralizado e participativo, que tem por função a gestão do conteúdo específico da Assistência Social no campo da proteção social brasileira. Assegura não somente o trabalho do assistente social, mas a implantação de órgãos como CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). As siglas são parecidas e de fato não podem sobreviver sem o outro. O CRAS é para não deixar o leite derramar, já o CREAS é quando o leite transbordou, cortou, azedou. 
          O "Forró do Idoso" é um evento que ocorre na maioria das cidades, pois desperta a comunidade local e adjacentes para o fortalecimento dos vínculos. A função primordial do CRAS é esta Fortalecer Vínculos e evitar que o direito (leite) sejam violados. Como estamos em Setembro que tal prepararem um encontro com crianças e jovens para discutirem sobre ansiedade, depressão e suicídio. Afinal, O CRAS deve servir também como órgão protetor dos diretos, tendo como especificidade prevenir que essas garantias legais sejam mutiladas. Portanto, carteira do idoso, informação e orientação, apoio psicológico, benefícios eventuais e continuado, cadastro único, programa de transferência de renda, documentação básica é competência do CRAS.
         Uma senhora recebe o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e seu neto se apropria desse direito para farrear, negligenciando seus remédios, alimentação e outros insumos básicos. Neste caso o leito azedou, entornou. A comunidade deve, tem a obrigação de denunciar ao Ministério Público, caso necessitem de auxilio para realizar a denuncia o CREAS assume integral participação no caso, auxiliando a vítima para que retome seu direito. Quem cuida de serviços mais complexos como população em situação de rua, maus tratos, discriminações sociais, ameaça, abandono, violência física, psíquica e sexual é o CREAS.






          Lembra da Maria ela fez uma pergunta sobre o Bolsa Família: "--- Professor, como é que faz pra entrar nesse benefício aí? Lá em casa são 8 pessoas e aí tenho direito?" 
          --- Muito bem, Maria, isso mesmo é um direito e temos que cobrar, questionar, pois, somente por meio de questionamentos podemos saber e conhecer. Vamos lá! Você tem que analisar e é necessário muita atenção. A rendo da sua família não pode superar 178,00 reais por pessoa. Por exemplo, se uma família ganha 1.500,00 reais e habitam na casa 9 pessoas é só dividir. Então, 1500,00 ÷ 9 = 167,00 reais. Isto quer dizer que essa família deve ser contemplada com esse programa. No entanto, tenho que falar sobre as variáveis, são características especiais, isto é, o beneficiário pode incluir determinados valores se atenderem a essas características como 1ª Variável Crianças dos 0 aos 15 anos (R$ 41,00); 2ª Variável Jovem: 16 a 17 anos (R$ 48,00); 3ª Variável Gestantes e Nutrizes (R$ 41,00); 4ª Variável de Benefício para a superação da extrema pobreza (hiato de pobreza, valor médio R$ 82,99) podendo chegar ao valor de 205,00 reais. Entenderam? Qualquer dúvida vocês podem vir ao CRAS e o técnico esclarecerá todas as dúvidas. 

            A participação popular é também um direito e um dever. Muitos de vocês já ouviram falar "Você só sabe cobrar, mas você faz a tua parte?" Não podemos ser reféns dessas frases feitas e que as vezes estão cobertas de razão. Falamos ainda "os políticos só nos procuram em época de eleição", mas como assim? Nós não vamos uma seção da Câmara de Vereadores. Temos nos fazer presentes em cada encontro, temos que participar. Tomar o que é nosso por direito, senão vamos silenciar diante da assertiva: "Você só sabe cobrar, mas você faz a tua parte?" 
            Com o propósito de cultivar a participação popular na Assistência Social, que julgo ser uma das mais importantes secretarias do município, foi criado o CMAS (Conselhos Municipais de Assistência Social). Por isso, que nosso tema (Assistência social: Direito do Povo, com Financiamento Público, Participação Social) possui em seu DNA o POVO, pois é para ele que tudo converge. O governo não pode fazer nada que não pense antes na sociedade e em promover através de ações concretas justiça social. Para isso é necessário financiamento coeso e ao mesmo tempo flexível às peculiaridades das principais áreas como educação, segurança pública e alimentar e saúde. Porém, o que ocorre é certo desmantelamento do SUAS. 
            Isto se deve graças a Emenda Constitucional 95. Por trás dessa lei denominada de forma falaciosa de "teto dos gastos", visa fragmentar os programas sociais, marginalizando ainda mais os pobres, favorecer um programa de privatização, concentração de renda e exclusão social. Infelizmente não queria terminar esse texto com uma mensagem de desesperança, mas seria hipocrisia dizer que está tudo bem ou que pode melhorar. Caso não haja mobilização e engajamento de todos esses direitos que levamos anos de luta para conseguirmos e que ainda estávamos tornando mais consistentes simplesmente desaparecerão.


sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Ser Alguém na Vida!

Em "Impuros" a vida se mostra em sua face mais crua. A série se passa num tempo não muito distante e retrata o cotidiano daqueles que não são vistos pelos ditos civilizados. São a escoria e nasceram para servir a milícia orquestrada por um esquema que se alastra a cada amanhã. Isso se deflagra na fala: "Da próxima vez traz o combinado porque senão vou fuder esse movimento de merda dessa favelinha de merda de vocês". Milícia, verdadeira máquina de lavar, roubar e sequestrar sonhos. "Impuros" revela que lá de baixo os visíveis olham com desdém como nada mais existisse. Os que desejam serem puros, como dizem os mais antigos "ser alguém na vida" devem se submeter aos mandos dos milicianos e rezar para não encontrarem uma bala, um soco, um estuprador a cada esquina que passam ruamo àquela meta "ser alguém na vida". 

Indignação define bem os personagens do primeiro episódio. Tentam seguir criar oportunidades para saírem dessa sombra de miséria e delinquência que o tráfico impõe. Mas, sempre há uma força cultura e histórica que os lança como um jogo para o caminho da margem, como se dissessem "não tem jeito tenho que me fazer parte desse lance". Somente quem vive ou viveu pode de fato expressar a crueza e força desses lances. Tentam ser puros, tentam ser reconhecidos pela sociedade, porém fazem parte do povo, dos designados a sofrerem e viverem a margem por essa veste que insiste em vesti-los. No entanto, eles não querem serem lançados, tentam de todas as formas, mas acabam deformados pela própria estratégia do sistema. 




Não acredito em destino, mas penso que a vida nos obriga a fazer lances, apesar da liberdade que estamos condenados, nós, por vezes, somos obrigados a enfrentar e agir seja para defender nossos entes queridos, amigos seja ainda para sobreviver. Assim, o ideal "ser alguém um dia" se esvai entre os lances e esquivadas dos tiros, das recriminações, dos olhares.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Crise no Sistema Carcerário Brasileiro

  Por: Thalia Bizerra Nogueira

No filme Carandiru de 1989 do médico Drauzio Varella narra suas experiências na extinta casa de detenção. A obra relata as péssimas condições de higiene e a desumanidade presenciada no cotidiano carcerário. Apesar de muitos anos, esta ainda é a realidade das prisões brasileiras, visto como um instrumento de tortura. Sendo assim, reavaliar as condições que os detentos vivem é imprescindível para aferir as consequências na contemporaneidade.
  Em princípio a má estrutura em grande parte das cadeias, contribui para que os presos lutem para sobreviver. A superlotação, a falta de água potável, péssima alimentação, atestam a corrupção no sistema carcerário, visto que a média nacional de custo por preso é de R$2.400 reais, pondo os indivíduos à margem do descaso.
  Além disso, por não haver distinção, nem mesmo com jovens e mulheres, todos são tratados da mesma forma, evidenciando a falta de políticas públicas e a necessidade da atualização da legislação. Desse modo, a reintegração do indivíduo na sociedade será difícil, obrigando o mesmo a viver da informalidade, na qual a maioria volta ao crime.
  O tratamento carcerário fere os direitos humanos. Portanto, o governo deve fornecer subsídios para extensão das celas evitando a lotação e suprir a carência de água potável e alimentação de qualidade. Ademais, é fundamental a presença de equipes médicas para os cuidados da saúde feminina. Além disso, é muito importante atividades externas apoiadas por ONGs, que darão oportunidade aos detentos de reintegração social.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Como fazer parte de uma Democracia?

De maneira incisiva: "Meu jeito é esse. Eu não mudo", de forma branda "alguém tem que ceder,  você precisa se adequar". Sempre é o outro que precisa mudar, se adaptar ao seu, ao meu jeito de ser. Como fazer parte de uma democracia se a mudança sempre deve vir do diferente, do que está fora de mim? 



Democracia, palavra muito ventilada nestes últimos dias. Sabemos que surgiu na Grécia inspirada em pensadores como Platão e Aristóteles. Foi subjugada na era medieval. Transitou entre as trincheiras da Revolução Francesa e hoje navega entre likes e deslikes nas redes sociais. Seu conceito evoluiu durante esses períodos, mas seu DNA que consiste em promover e assegurar o bem comum e a equidade sobrevivem a duras penas.

Ao sacrificar a diferença estamos massacrando as conquistas de teóricos e ativistas políticos. O que significa dizer: "não conteste o que a maioria considera como certo. Aceita e pronto, deixa de criar caso". Ao berrar ou xingar seja em redes sociais ou pessoalmente o outro por não aceitar este ou aquele pensamento podemos perceber um sintoma claro de que não sabemos o que é e como fazer parte de uma democracia. 

Fazer parte de algo exige pertencimento, ou seja, abdicar do caráter mesquinho seja idéia ou atitude em prol de algo superior a estes interesses secundários. Fazer parte de uma democracia exige mudança. Neste mover-se constante podemos olhar o outro como a diferença que me completa. Como uma relação entre aprendizes.

Já ouvimos o jargão de que "o novo assusta" e é a pura verdade. Estamos assustados com esse movimento. Essa geração que nasceu inundada entre redes, hoje vive na pele o preço de seus antepassados por não saberem concretamente fazer parte, acolher, entender e discutir com o novo. Para fazer parte é preciso envolvimento, coragem, empatia e sobretudo autocrítica. 

Não encarar o outro como meu adversário, é o primeiro passo para a promoção de encontros, onde haja trocas de ideias, onde cada pausa não possibilite um novo round tendo como motivo a defesa cega da  "MINHA IDEIA". Portanto, a capacidade de reinventar-se, de perceber que o outro pode contribuir com determinada teoria ou interpretação. Reconhecer que de fato podemos ajudar-nos a melhorar constitui o motivo que todos nós brasileiras e brasileiros precisamos para aprender a pertencer a uma própria democracia e, assim, praticar a justiça social de que tanto falamos. 




sábado, 18 de maio de 2019

O SONHO DOS HERÓIS

"Queria lhe dar uma boa impressão de Clara, mas temo parecer apaixonado e subjugado; então falava mal da moça e via, com pesar, que Larsen balançava a cabeça e concordava. Falou muito e falou sozinho, e por fim sentir-se desgostoso e deprimido, como se o abandonasse um frenesi que, depois de levá-lo a destratar Clara, a desconcertar seu amigo e a se manifestar como um outro tanto e como um desequilibrado, o deixara vazio e exausto" (p. 76-77). Não podemos nos apaixonar para não demonstrar fraqueza e submissão. O clima sexista da obra fez refletir sobre a condição de ser homem em um universo que exige categorias para sermos idênticos ao preceito civilizatório que nos rege: sem choro e sem paixão, apenas seja homem. 


O amor de Emílio Gauna por Clara denúncia a necessidade de se relacionar e dos interditos que o casamento impõe como a troca da liberdade com seus amigos ao tédio televisivo, às conversas sobre filhos, aos planos imobiliários. Gauna se sente pela metade por não poder fazer o que quiser sem dar satisfação ou justificativas por onde vai. Gauna, a expressão do homem normal, não via sentido no teatro, na arte. Fora educado em um ambiente sem requintes. Porém, Gauna disse que "-- É como se antes eu tivesse cego. Você vê ensina a ver" (p. 101). Ao reconhecer Clara como seu amor, Gauna reencontra seu eu interior, mas o fantasma de 27 continua a espreita-lo.

Os heróis O bruxo, Taboada, Clara e Larsen tentam proteger Gauna do seu próprio destino. Assim disse Taboada "Nessa viagem (porque é preciso chamá-lo de alguma maneira) nem tudo é bom e nem tudo é ruim. É uma bela memória e a memória é a vida. Não a destrua". Para não esquecer seria necessário segundo o bruxo "tentar melhorar". Gauna não entendeu muito esse enigma altruísta para salvar suas memórias. Ele não entendia que as pessoas que importavam e verdadeiramente queriam o seu bem estavam por perto. Entretanto, a embriaguez seguida de uma  forte ressaca fez com que Gauna esquecesse de quase tudo. Apesar dos heróis tentarem dissuadir Gauna o anti-heroismo de seus companheiros de bebedeira foi trágica.  

O Sonho dos heróis de Adolfo Bioy Casares (1914-1999) trilha uma miscelânea de sentimentos e desejos que percorrem  desde a oficina aos cabarés de Buenos Aires. Com uma prosa afeita as interrupções do narrador Casares costura a narrativa com tom de suspense para penetrar no leitor a sensação de também fazer parte da história. 


A primeira indagação é quem será essa maldita mascarada que mexeu tanto com Gauna?  O encontro interrompido pela bebedeira descontrolada fez despertar em Gauna o desejo de reviver cada instante do carnaval de 27 perdido entre brigas e soluços. Contudo, seria impossível, as pessoas eram outras, os corpos mudaram, o ânimo passou, novas experiências surgiriam. "Naquele tempo era outra animação, outra a solidariedade humana" (p. 152). A mente se transformou! 

Passado, presente e futuro se entrecruzam como lances de jogo de um hipódromo. Querendo reviver as cenas de 27, refazer o percurso das boates e danças, Gauna sonhou com a eternização daquele instante, mas seria impossível. Seu brilho assim como Baudelaire foi percorrer o impossível, o passado-presente que se construía no futuro. 

Gauna havia mudado, estava casado com Clara, tinha que dar satisfação. O erro ao transgredir seu relacionamento e sair em busca do reencontro com a mascarada o incomodava a cada gole de cerveja. Gauna teve que lidar com o insuportável doutor Velarga que bancava o chefe as custas do dinheiro alheio. Com ar de superioridade e um título que lhe dava um suposto prestígio interrompia e repreendia todos que pensavam diferente da sua mente privilegiada. Fazia questão de normativizar os comportamentos. Seria o doutor um homem semiformado? Ou seria um termômetro que indentificava segundo seu notório saber os semiformados? O percurso se tornou tedioso para todos os envolvidos. "-- O Emílio decide, pois foi ele quem ganhou o dinheiro. Está claro ou querem que eu grite isso em seus ouvidos? Dou-lhe minha anuência, mesmo que ele queira dar voltas pelos mesmo lugares, como um animal de moenda" (p. 149). Gauna estava cansado "de seus deboches e implicâncias. Uma malignidade persistente e grosseira o governava. Quanto aos rapazes eram uns pobres-diabos, aspirantes a delinquentes. Por que demorou tanto para perceber isso? Tinha saído de casa, sem avisar a mulher para andar com um bando de imbecis" (p.155).

Longe da atmosfera kantiana "quero dizer que não há calamidade maior que um homem que não escuta seu próprio juízo" (p. 115). Gauna seguia seu instinto de experimentar ou ainda seguir o destino interrompido naquela noite. Esse "impulso diabólico" o fez se distanciar de sua amada. Em meios as decepções e apáticas de refazer seu percurso a magia se diluiu. O cansaço abateu os heróis, nada mais fazia sentido. Gauna esqueceu, as lembranças  fugazes por mais que tentava pertenciam a outro instante. O herói teve que lutar para se reencontrar.

A fuga de Gauna das convenções sociais e obrigações se dava em reviver essa festa neste tempo e espaço. Apegado aos prazeres, revivia o carnaval de 27 e os olhares sinuosos com a mascarada. Que ao final pode ser qualquer um. O carnaval ao contrário das outras festas desmascara todos. Neste gasto de energia podemos ser quem e o que quisermos. O bruxo tinha razão. Clara devia, sempre é a mulher. Correu atrás dele no carro de um boçal Loiro, típico mauricinho. Não deu tempo! A culpa foi de Clara (a mascarada) que não cuidou de Gauna? Ou será que de fato se cumpriu a sina do destino interrompido? A morte trágica seria inevitável.


Por Francisco Atualpa Ribeiro Filho


Referência
CASARES, Adolfo Bioy. O sonho dos heróis. Trad. Josely Vianna Baptista. 2. ed. Rio de Janeiro: Globo, 2019. 208 p. #tag_experiencias_literarias

domingo, 5 de maio de 2019

Menina você é preciosa!

Por Ana Karulina Alves Ferreira
Administradora de Empresas
Servidora Publica

Por mais que sua luta e dor sejam intensas, não desista. Tem pessoas que te amam muito e sofreriam muito com sua ausência. Lute em nome delas, lute por você que merece recomeçar e ser feliz, lute por sua vida. Você não é fraca ou inútil, pelo contrário é forte por suportar toda sua batalha. Não tenha medo de buscar ajuda dos que te amam, desabafe, busque ajuda.

Fonte: https://www.infoescola.com/psicologia/depressao/
Você é preciosa demais e merece e vai ter muitas conquistas pela frente. Não coloque um ponto final nisso, se permita fazer uma pausa. E não desista, você não está só e nunca esteve, permita que amigos e família possam te ajudar a recomeçar. Só os corajosos e vitoriosos não têm medo de se abrir, de revelar seus medos e dores. Lute como a guerreira que sempre foi, e vai descobrir que valeu a pena não desistir.

Sei que você sempre ouviu que a vida é uma luta. Sei como se sente, já passei por isso. E de fato as vezes cansa lutar sempre. Poderia ser diferente? Não tenho dúvidas disto. Muitas vezes divinizamos as dificuldades quando falamos: "se fosse fácil não teria graça". Besteira! Como seria maravilhoso se conseguíssemos estudar e trabalhar sem assédio moral, sem humilhação, sem nos preocuparmos com o que o macho alfa vai pensar de nós. Realmente menina isso cansa. Mas, temos uma certeza se jogarmos a toalha não sentiremos o gosto dessa superação. Superar a tristeza, o vazio, a sensação de sufocamento, a vontade de sumir e desistir de tudo. Sei que não é fácil! Sei ainda que é fácil encorajar alguém, mas o que é difícil é a capacidade de escutar sem julgamentos, sem achar que é frescura, simplesmente escutar, não somente com o aparelho auditivo, mas com empatia. Eis a grande dificuldade.

O amanhecer é embaçado, mas mesmo em meio a névoa, ainda é possível ter luz.

Acredita e não desista! Um dia de cada vez!


sábado, 23 de fevereiro de 2019

Iluminação ou Lobotomia?

Os iluminados edificaram uma razão límpida sem dar chance ao não idêntico, ao não formal, à própria vida. Conceberam o homem como sujeito de si, mas sujeito às normas e preso à impossibilidade de realizar os desejos mais vitais, o de ser àquilo que sempre quis ser. Os iluminadores são os culpados de pensarmos assim, de não autorrefletirmos sobre os mecanismos lobotomizadores. O imperativo "ser dono de si" caiu no engodo, morreu pela própria boca ou diria razão. O excesso de conhecimento pode queimar. Há muito tempo bestas trafegam no país como senhores da razão. É bem verdade que podem achar loucura ou até injustiça, mas pensem bem qual sistema esquemático inundou sorrateiramente a existência. Hoje mais uma besta ronda o país, mas quem a concebeu foi o Absoluto.



REVISTA FILOSOFIA NA VEIA - ED. 01/2019

MOVIMENTO FILOSOFIA NA VEIA: PRÁXIS FILOSÓFICO-LITERÁRIA NO COLÉGIO ESTADUAL NOSSA SENHORA APARECIDA - CENSA



É preciso estar sempre bêbado. Está tudo aí: essa é a única questão. Para não sentir o fardo terrível do tempo que nos despedaça os ombros e inclina para o chão, é preciso se embriagar sem trégua. mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, do que preferirem. Mas embebedem-se. E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, vocês se acordarem com a bebedeira já diminuída ou desaparecida, perguntem ao vento, à onda a estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntem-lhes as horas. E o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio vão responder: é hora de se embebedar! Para não serem os escravos martirizados do tempo, embebedem-se, embebedem-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, daquilo que preferirem (BAUDELAIRE, 2016, p. 119).

PRIMEIRO MOVIMENTO
Atividades Emancipadoras

Dessa vez o problema se tornou pessoal!

A partir do momento em que um filho, sobrinho, amiga morreu, sofreu ou se calou, começaram-se os questionamentos, porém talvez, não o suficiente para te incomodar, porque o caso ainda não bateu a sua porta. Não é pessoal para você, sua filha não se suicidou, seu irmão não entrou em depressão, mas eu, provavelmente me cortei e me disseram que foi drama ou ócio, tentei avisar que o meu amigo estava à beira de um precipício no qual só eu podia enxergar e falaram que não. Eu me fiz presente, porque me permitir sentir a dor, aprendi que todos passam por situações nas quais um braço estendido salva e um dedo na cara é um passaporte para o fim.

Altruísmo? Empatia? Qual é o significado disso, se hoje mais vale mil seguidores em uma rede social, do que um amigo verdadeiro ou uma vida de verdade, jovens totalmente alienados, obsoletos em massa. Sem trazer consigo a cultura de valores nos quais realmente constrói um caráter. Parafraseando Eça Queirós, a arte que nos pinta a nossos próprios olhos pode condenar o que houve de mau na nossa sociedade. Nesse caso a falta da liberdade de expressão ao pé da letra, o que deixando claro não é falar qualquer bobagem ou algo para aparecer, mas sim se manifestar de maneira na qual o preconceito enraizado não rebata de forma violenta ou os reprima, não de modo que pais expulsem seus filhos de casa e não os considere mais, por não ser aquilo o que foram criados para ser. Imagem e semelhança de pais autoritários? Misóginos? Machistas? É aí que mora o problema, mente comandada, futuro retrogrado.

Sim, futuro retrogrado, como ir pra frente sem senso crítico? Sem opinião própria?

Humanidade perdida, juventude, crua! Almejam apenas status e um celular do ano!
Seguindo essa linhagem de pensamento, observa-se que tudo provem de algo e o seu sim pode ser a fagulha para todo esse ciclo vicioso. 

O que muitas pessoas não entendem é que o ensino médio tem muito a dizer sobre o futuro seja pela preparação acadêmica para uma faculdade, ou o comportamento social. Se um aluno é reprimido pelos colegas e tachado, esse será o seu apelido e seu desmoronamento social pelo resto do ou dos anos a seguir, essa ruptura está associada ao simples fato de que no colegial não existe o princípio de isonomia. Sempre haverá panelinhas, se uma providencia não for tomada e ela tem que partir primeiro de você.

Assim, combater antigos estigmas deve ser prioridade, em um mundo que a mídia tem que ditar até como o seu corpo deve ser. 

É necessário total acompanhamento a juventude de hoje, partindo desde os pais aos professores, amigos ou de você, que as vezes passa pela rua nota algo de diferente ou não vamos muito longe, nem cumprimenta as pessoas por onde passa. 

Como falar de educação dessa forma? Se ao menos palavras básicas do cotidiano você se nega a aplicar. 

De que forma tornar o Brasil um país melhor se, sequer ter o seu próprio ponto de vista para ajuda-lo você não se preocupa em pensar.

PENSAR? O que é isso em um mundo onde qualquer informação na internet é compartilhada sem absorção e total compreensão. 

Informações desnecessárias ocupando mentes que acredito que possam ser brilhantes. Se tem a capacidade de mandar uma indireta em uma rede social ou de criar um “meme”, é capaz de ser um colunista em um jornal, basta você professor encontrar maneiras em que a tecnologia atual, seja uma aliada instigue o aluno a se sentir capaz. Ninguém é bom em tudo, mas todo mundo é sim, bom em alguma coisa e sabe o que está faltando? A valorização dessa “alguma coisa”.

É exigido demais, que você se encaixe em padrões e estereótipos e cobrado de menos que você seja apenas você! 

Então, para que essa onda de suicídios, depressão, ansiedade não seja culpa minha e nem tão pouco sua, é preciso fazer valer,  começando da sua cidade, o Brasil um país realmente diverso, altruísta  acolhedor dos seus, valorizador, fazer dessas experiências tristes arte, literatura como na segunda geração romântica e para isso é só necessário uma coisa: Empatia!

Viver a dor do outro te ensinará, a ajudá-lo.
Samara Dourado Yoshida de Siqueira
3º ano matutino – 2017.2

A cooperação de todos foi fundamental para produzirmos o documentário sobre as manifestações da barbárie no ambiente escolar. O vídeo está disponível no canal https://www.youtube.com/watch?v=RkQcHosPpkU&t=362s









Na primeira imagem representamos uma aula tirânica, autoritária, semiformada. Já na segunda foi a expressão do professor democrático que aceita e realiza as sugestões dos estudantes. Falar a mesma linguagem que os jovens criou uma atmosfera lúdica e prazerosa.

SEGUNDO MOVIMENTO
Atividades Transgressoras




Predestinada?

Já era o fim.
Nada mais fazia sentido, era tanto desgosto 
E ainda tinha que demonstrar prazer fingido.

Um corpo nu sobre mim, respiração ofegante 
Cansaço explícito, se esforçou bastante.

Meu corpo em total devassidão 
Como nunca imaginei está 
O cheiro forte, a agressão 
Sangue derramado em todo lugar.

A estupidez de quem se achava superior
Alguém dono de mim.
Eu lutei, chorei, gritei
Não adiantou, ele conseguiu.

Fui obrigada a me despir: pernas abertas, me entregar.
Agonizei com as fortes dores, no corpo e na alma.
Uma flor ainda em botão, forçadamente se abriu 
Senti cada toque, e não foi nada bom.

Mãos pesadas passavam pelo meu corpo 
Sangue e lágrimas escorriam simultâneas 
A penetração doía mais que o normal 
Meu corpo virava um mapa de hematomas

Vi meus sonhos e ideais
Se perderem em meio a uma noite fria de sexo ruim.

Me afogava em lágrimas,
Atordoada por meus próprios gemidos 
De uma forma cruel, uma virgem se fez mulher.

Beijos molhados com sabor de álcool 
O tapa na cara, o chute, a cotovelada 
Doíam na alma...

Me espancava, me abraçava.
Me machucava, me beijava...

Eu ouvia horrores, enquanto era:
Maltratada,
Humilhada,
Dilacerada,
Explorada!

A culpa não foi minha, não foi do tempo
Não foi das minhas vestes.
A culpa, foi do ESTUPRADOR 
Que devorou o meu corpo
A minha alma e o meu futuro.

A culpa é sua que apoia piadas machistas 
Sua que ao ver uma mulher a insulta 
Sua, que a cultura do estupro não deixa de apoiar.
A culpa é sua, que acredita que mulher "boa" só exista no culto
Com a falsa ideia, de uma pra ser amante, e outra pra se casar.

Por: Jéssica Loyane Lustosa Pereira


A culpa é da tua indiferença, afinal queria apenas um abraço

Silêncio. Angústia. Medo. Tesão. Aflição.
O sangue escorre, que alívio. É bom aliviar a dor em cada gota de sangue. 
Nada tem mais sentido na vida. A não ser o silêncio. Se vamos morrer um dia, porque não adiantar o término? Basta! Hoje é o grande dia. O grande dia, para o meu epitáfio. Já escrevi. 
Ah sim! Escrevi, o meu texto. Bem clichê, não é mesmo? Todos que morrem escrevem... eu não queria fugir do padrão... 
Então, seria interessante ouvi-la antes da minha partida. Quem sabe, eu não mude de ideia ao final do texto. Talvez eu me convença, que existe sentido na vida. 
Bom. O meu comportamento está estranho ultimamente. Vocês já devem ter notado. Eu realmente não suporto, não entendo essa felicidade de vocês. 
Porque são felizes? 
Qual é o sentido da vida? 
Desculpem- me. Por não ser uma boa filha, por não ser uma garota fácil, por não usar roupas de marca, por não ser alguém que interage. 
Eu carregava tristeza nos olhos. Pedi ajuda. Mas falavam que era só fase de adolescente. 
Eu só queria falar. Eu gritava, mas ninguém me ouvia. 
Eu não aguentava. Era deprimente me olhar no espelho. Era assustador ser estranha, ser alguém diferente todo dia...
Ela me visitou, e seduziu... Toda de preto a cor mais elegante.
É... Realmente, após ler esta carta para vocês, me veio a ideia. Vou viver mais um dia, quem sabe outro e mais outro. Mas cuidado!
Não cobre de mim, aquilo que realmente não posso dar. Apenas me abrace, me ouça. Sinta-me como se fôssemos um só. Não me questione e nem pressione, apenas me abrace, quem sabe assim saia do automático.

Por: Ana Luiza Ribeiro




Foto oficial do Movimento Transgressor. Tensão, medo, nojo foram alguns sentimentos que invadiram a aula.

TERCEIRO MOVIMENTO: 

Atividade Autorreflexiva crítico-transgressora


Foi uma noite incrível com muitas risos e lágrimas. Os estudantes botaram pra fora seus gritos e berros.

Cansei de ser trouxa


Já olhou para o céu hoje? Na minha escola é inevitável!

Vivemos na serena limitação, fechamos os olhos e não nos permitimos enxergar nossos direitos. Após um ano e três meses acuados nos corredores do CENSA decidimos lutar por meio da escrita e revelar o descaso do governo de Formosa do Rio Preto-BA. Estamos fartos de um sistema manipulador que através de um discurso conveniente e demagógico, cuja ações não passam de paliativos, inibindo mudanças significativas. O Colégio Estadual Nossa Senhora Aparecida enfrenta diversas complicações. Uma delas é sua infraestrutura. Foi averiguado mediante perícia técnica que a cobertura do pátio estava comprometida.

Para segurança dos docentes e discentes a direção da escola decidiu retirar a cobertura e continuar o ano letivo. O município e o estado prometeram solucionar essa situação, porém, um ano se passou e até os dias de hoje a realidade é uma só: os estudantes e professores são expostos ao sol e chuva, diariamente. Em dias de chuva a situação piora, pois para se locomoverem de uma sala à outra os docentes enfrentam o risco de escorregarem, sem falar no prejuízo que causa ao seu material. A direção da escola mesmo se esforçando e tentando sanar esse problema não tem poder para isso devido ao alto custo dessa reforma. Eles fazem o possível graças ao esforço e união de sua equipe.

Por isso, o governo deveria, ao menos se importar com a segurança e aprendizado dos estudantes de sua cidade. Dentro dessa escola não tem nenhuma "criancinha que não sabe o que faz da vida", lá se constrói uma geração de jovens promissores, determinados, jovens que sonham e lutam por seus ideais. Falam que somos desmotivados, mas como não desmotivar nessas circunstâncias? Nesse colégio que vocês negligenciam, sairão futuramente Médicos, Advogados, Professores, Políticos, e ainda diante disso somos invisíveis. Estão nos atrapalhando de forma perversa. Essa foi apenas uma demonstração que o “brado retumbante” dos estudantes de Formosa estar vivo e pulsante. Jovens unidos transformando Formosa.

3° A matutino

3° B vespertino
2° B vespertino


Acessem o link do manifesto e vejam a situação do CENSA. O melhor dessa ação é que as autoridades competentes mesmo que de forma precária arrumaram o telhado. 





APENAS 15 ANOS!

Eu era o grande orgulho da família, menina alegre e contente 
Nunca imaginei que me tornasse uma ilha neste continente. 

A pureza da criança vendou meus olhos por longo tempo 
Era feliz; cantava e pulava e o futuro caminhava lento. 

De mansinho ia minha infância quando ele apareceu de repente 
Tirou meu sossego, e o destino nos colocou frente a frente.

No início, altos papos surgiam ao telefone, sorridente ele insistia 
Madrugadas eram testemunhas daquelas juras que tanto fazia. 

Desta forma, os dias passavam e o amor aumentava 
Mas não podia imaginar o que o destino me reservava 

Marcou um encontro e muito diferente ele chegou
Nervoso tirou um papel do bolso e me entregou

Um bilhete em letras garrafais me convidava à leitura 
E um segredo era revelado, cada palavra uma tortura. 

NELE DIZIA ASSIM: 

ACABOU, TUDO FOI ENGANO! 
NÃO SINTO MAIS NADA POR VOCÊ, CONHECI UMA “MINA” DE ARRASAR
ELA É LINDA E ENCANTADORA E A COLOQUEI EM SEU LUGAR 

ESTAVA EMBARCANDO NUMA FRIA, CABELO PIXAIM, PERNA FINA
SEUS CONCEITOS ULTRAPASSADOS NÃO MAIS ME FASCINAM. 

QUANTO TEMPO FOI PERDIDO! NÃO ME PASSE MAIS MENSAGEM 
SUPORTAR-LHE TODO ESSE TEMPO FOI A MINHA PIOR BOBAFEM. 
ACHE SUA CARA METADE! VOCÊ FOI UM GRANDE MAU 
AGORA QUE ME LIBERTEI, JÁ VIREI A PÁGINA, TCHAU! 

Muda, sem palavras eu fiquei. Confesso que aquele estúpido bilhete
Mutilava aos pouco, por inteiro e dessa vez nem precisava de estilete. 

A pior coisa que eu achava era olhar me olhar no espelho desse jeito: 
Achava-me feia dos pés à cabeça e aquilo era uma falta de respeito. 

Não tinha ninguém. Perdida me escondi no primeiro lugar 
Naquele cemitério frio e deserto, no silêncio, fiquei a chorar.

Do cemitério fiz morada por longo tempo: Foram dias, meses... 
Não sei se era bobagem ou loucura, só sei que fiz diversas vezes.

Imensa tortura e sofrimento, no peito instala maldita paixão 
Na alma habita o indesejado, a carne queima como rojão. 

Navalha fria separa epiderme, sangue quente jorra no chão 
Arrancando a tristeza do corpo, mas na alma fica a solidão. 

O quarto é meu mundo, a cama verdadeiro bálsamo profundo 
O cobertor é proteção para as feridas do corpo talhado e imundo. 

Mergulho no meu desconhecido, algo que não quero revelar 
Juro, tenho medo de tudo, fecho os olhos para não acordar.

De novo essa vontade. Deus! Arranque logo de mim 
Se não vai curar o corpo a alma não pode ficar assim. 


Dê alento a este corpo que procura motivos para levantar 
Sair deste marasmo profundo e o desânimo logo acabar.

Os cabelos eram lindos e cacheados, corpinho sensual 
O que eu falava era importante, fazia me sentir a tal. 

Queridinho, escute aqui uma verdade eu também estava de “caô” 
Você não era tudo aquilo que eu pintava, era insosso, sem sabor. 

No peito dilacerado ainda restam dúvidas e tristeza profunda 
Na realidade foi você quem perdeu já o risquei do meu mundo. 

A “mina” sorridente, agora se achava feia e irritante 
Culpa daquele bilhete que dizia verdades latentes. 

Claro que guardava mágoas, mas dizia que estava bem 
Para mostrar que era forte iludia todos e a mim também. 

Mas a maldita aparece rasteira, sem pedir permissão  
Começa com uma coisinha e se instala a depressão.  

Encontrei as palavras certas que me serviram de norte 
Um epitáfio bem escolhido para depois da morte. 

“AQUI, JAZ UMA MULHER COM SONHOS  BEM PROFUNDOS 
PARECE QUE UMA VIDA INTEIRA NÃO CABE EM 15 ANOS!”


Por: Samantha Marques / Émilly
3º ano matutino – 2018.2



Constamos com a presença da diretora Marinélia Rocha. Ela chegou com seu abraço apertado em todos os presentes, disse:
"--- Meninos tenho orgulho de vocês, parabéns pelo projeto, a vida já começou faz tempo e vocês estão mais do que prontos para vivê-la. Estou muito feliz por vocês".

SOU CULPADO!

Culpado! Pela gargalhada extravagante daquele jovem sisudo no canto da sala. Por escancarar as janelas da imaginação desses jovens acanhados. Por perfurar os olhares recriminativos de pais e professores truculentos. Por denunciar esse sistema misógino. Por zombar dos puritanos de plantão. 

Culpado! Por não exigir sempre a necessidade de um ser superior para me autoafirmar. Por dilacerar a depressão e ressignificar a tristeza. 

Culpado! Por dar chance ao desconhecido, ao não-idêntico, ao não-saber. Por não desanimar, não me render aos caprichos do cansaço. 

Culpado! Por ir à praça com jovens e transportá-los para outro mundo, longe, mesmo que por um instante soberano das cadeiras gélidas e enfileiradas da sala de aula. 

Culpado! Por ajudar jovens a serem o que eles sempre desejaram ser. Por expurgar a ânsia adulta e deixar germinar a adolescência quase perdida. Pelo riso escancarado, pelo choro exaustivo, pelo soco no estômago, pela derrisão mais debochada. Por comunicar o sagrado, a Vida, a literatura, o Mal. 

Culpado! Por simplesmente ser. No final todas nós estamos condenados... de uma forma ou de outra a depender do gosto, do ponto de vista ou do humor do carrasco.


Por: Atuórgines 





OBS: Todas as imagens desta edição foram acessadas entre os dias 22 e 26 de fevereiro a partir do https://www.google.com/imghp?hl=pt-pt. As fotos dos estudantes e funcionários da escola foram registradas por meio de dispositivos pessoas dos próprio envolvidos. 





Referências

Confira cada produção acadêmica por meio das imagens (basta clicar na capa) abaixo:

  Filosofia na veia: reflexões e experiências Francisco Atualpa Ribeiro Filho Organizador e autor Com imensa satisfação, compartilho este li...