sexta-feira, 4 de março de 2016
O Mito como Forma de Filosofar
Por: Francisco Atualpa Ribeiro Filho
O mito faz parte da história humana desde os primórdios e nunca deixou de estar presente: seja na pré-história, onde as pinturas rupestres tinham um significado mágico, seja para explicar algo aparentemente aporético, ou até mesmo pela simples necessidade humana de criar “ídolos”.
Desse modo, o mito é um “relato das origens” e que, enquanto tal, tem uma função de instauração: só há mito se o acontecimento fundador não tem lugar na história, mas num tempo antes da história. O mito diz sempre como nasceram as coisas, as instituições, as regras etc.
Este modo de “esclarecer” a realidade tão misterioso devido, as personagens não serem seres humanos, pois são deuses ou heróis aperfeiçoados e civilizadores. Com isso, dizer um mito é proclamar o que se passou desde a origem. Uma vez revelado, o mito torna-se verdade absoluta.
Nesse sentido, o mito se institucionaliza e torna-se indubitável: é assim porque dizem que é assim. Podemos afirmar então, que o mesmo embora criado pelo homem torna-se “racionalmente ingênuo”.
Porém, não devemos conceber o mito apenas como “faz de conta”, que esgota a realidade nele mesmo, tendo em vista que muitos filósofos como Platão, Theodor W. Adorno (mito de Ulisses e as sereias), Leonardo Boff (mito do cuidado) souberam de forma alegórica contextualizar e filosofar com tais narrações, dando assim uma roupagem reflexiva e impactante.
Dessa maneira, uma das contribuições de Platão é o mito da caverna. Segundo o pensador, a maior parte da humanidade se encontra como prisioneira de uma caverna, permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido essa luz que entra na caverna, os prisioneiros contemplam e ficam inebriados com as sombras que formam a realidade. O grande problema é que, as pessoas conformam-se ao ver essas projeções e as tomam como se fosse realidade.
Mas quando um deles consegue desamarrar-se e ao sair da caverna acostuma-se com a luz, passa a enxergar as coisas, os seres e não suas sombras. A parte mais difícil do mito é convencer os outros moradores da nefasta caverna, que estão conhecendo apenas as sombras da realidade: uma ilusão. Para Platão, essa é a tarefa mais penosa do educador, a tentativa de resgatar das sombras os amigos.
Mais de 23 séculos nos separam do referido filósofo, no entanto a metáfora continua a “incomodar” como uma “pedra no sapato”, nos chamando à reflexão. Já que, nos tornamos prisioneiros de nossas próprias cavernas, que são criadas por nós mesmos, a saber: parte dos programas e noticiários de TV, a globalização em demasia, a desordem das redes sociais, a própria internet com seus sites pornográficos, o videogame.
Assim sendo, quase sempre de maneira inconsciente, habitamos um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas, levando-nos a crer que estamos sem saída. Entretanto, filósofos, políticos, professores amiúde sinalizam o caminho para a fuga dessas cavernas escuras. Porém, nós os tachamos de caretas, loucos, medievais. Quem sabe o interior da caverna seja mais aconchegante e quieto!
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