Não sou muito fã de reality,
mas nesse e com certeza em outros momentos o racismo se apresenta de maneira
tão crua e enraizada no convívio entre os brothers e as sisters . O homem branco ou a mulher branca
tem sempre que ganhar, porém caso a derrota seja inevitável deve ser por outra
pessoa que se identifique, ou seja, caso um não-branco ganhe foi fruto da caridade
do oponente. “__ Eu deixei ela ganhar. Vi que ela estava bem cansada”. Fiquei
imaginando se fosse alguém de pele pálida será que iriam pensar ou externar
esse tipo de juízo preconceituoso que desmereceu o potencial da ganhadora? Ela
não poderia ter persistido por esforço próprio? Precisou de alguém para
facilitar a vitória?
“__ Ah! Mas, não foi isso que
quis dizer. Chegou pra você dessa forma”. Sempre é assim, nunca queremos
dizer. Mas, é algo mais forte. Levou séculos para se construir esse raciocínio doentio
e não será do dia pra noite que iremos deixar de pensar assim. Percebo certo racismo
estrutural na “casa mais vigiada do Brasil”. Poderiam realizar um BBB sendo a
maioria negros. Mas, claro iriam dizer, os doentes de plantão, que seria
racismo reverso.
A branca derrotada não consegue assimilar
que perdeu para uma mulher de cor. Antigamente viviam à sombra da ‘sinhazinha’,
agora que assumem seu espaço sociocultural por mérito, capacidades e
inteligência são mais uma vez maltratadas com narrativas que insistem em afundar
sua vitória: “__ Eu aguentava mais, mas resolvi deixar pra ela. Foi um ato
de humanidade”. Essa foi demais! Humanidade? Sério? De fato muitos da casa
não sabem o real sentido desse substantivo. Repetem rotineiramente para aparentar
um ar de solidariedade e de inteligência.
Não me espanto com essa reação, a
indignação se faz presente, todavia, enxergo essas reações quando um não-branco
consegue chegar a uma posição de poder. Com certeza você em determinado momento
da vida se perguntou ou viu alguém afirmando: “___ Pra que ações afirmativas
se todos somos iguais, se todas as pessoas são capazes?” Isso continua! Que
mais? Você que tem dinheiro de sobra, comida farta, nunca soube o que foi
acordar com tiros ou sobre discriminação por causa do teu cabelo. Isso mesmo,
continua! Que mais? Você que estudou em escolas particulares e sempre teve o
melhor material escolar. De fato você é capaz, muito capaz! Assim fica fácil, né!? “___ Mas, não é
culpa minha professor”. Então, porque você se incomoda com as cotas? Sinal
que presenciar não-brancos nas universidades te incomoda?! Pense nisso, você
pode estar doente.
Tudo bem! Concordo numa coisa:
eles são capazes. Mas, será que se você tivesse nascido sem esses privilégios você
seria capaz? Não adianta capacidade sem oportunidade, sem alimentação, sem
transporte, sem segurança, sem saúde, sem educação de qualidade. Afinal, capacidade
de enxergar o outro como semelhante, respeitar seu jeito de ser e entender que
ele ou ela também podem ganhar uma competição por esforço próprio é o que te
falta. Causa espanto ver uma mulher que tem orgulho da origem ser médica, empoderada, ter autoestima? Caso você sinta alguma sensação negativa repense que ser humano você se tornou. Verás que a negritude brasileira não abandonará a prova.