segunda-feira, 23 de março de 2020

Sentiu? O que? Esse odor? Não seria racismo!?



Não sou muito fã de reality, mas nesse e com certeza em outros momentos o racismo se apresenta de maneira tão crua e enraizada no convívio entre os brothers e as sisters . O homem branco ou a mulher branca tem sempre que ganhar, porém caso a derrota seja inevitável deve ser por outra pessoa que se identifique, ou seja, caso um não-branco ganhe foi fruto da caridade do oponente. “__ Eu deixei ela ganhar. Vi que ela estava bem cansada”. Fiquei imaginando se fosse alguém de pele pálida será que iriam pensar ou externar esse tipo de juízo preconceituoso que desmereceu o potencial da ganhadora? Ela não poderia ter persistido por esforço próprio? Precisou de alguém para facilitar a vitória?


“__ Ah! Mas, não foi isso que quis dizer. Chegou pra você dessa forma”. Sempre é assim, nunca queremos dizer. Mas, é algo mais forte. Levou séculos para se construir esse raciocínio doentio e não será do dia pra noite que iremos deixar de pensar assim. Percebo certo racismo estrutural na “casa mais vigiada do Brasil”. Poderiam realizar um BBB sendo a maioria negros. Mas, claro iriam dizer, os doentes de plantão, que seria racismo reverso.

A branca derrotada não consegue assimilar que perdeu para uma mulher de cor. Antigamente viviam à sombra da ‘sinhazinha’, agora que assumem seu espaço sociocultural por mérito, capacidades e inteligência são mais uma vez maltratadas com narrativas que insistem em afundar sua vitória: “__ Eu aguentava mais, mas resolvi deixar pra ela. Foi um ato de humanidade”. Essa foi demais! Humanidade? Sério? De fato muitos da casa não sabem o real sentido desse substantivo. Repetem rotineiramente para aparentar um ar de solidariedade e de inteligência.

Não me espanto com essa reação, a indignação se faz presente, todavia, enxergo essas reações quando um não-branco consegue chegar a uma posição de poder. Com certeza você em determinado momento da vida se perguntou ou viu alguém afirmando: “___ Pra que ações afirmativas se todos somos iguais, se todas as pessoas são capazes?” Isso continua! Que mais? Você que tem dinheiro de sobra, comida farta, nunca soube o que foi acordar com tiros ou sobre discriminação por causa do teu cabelo. Isso mesmo, continua! Que mais? Você que estudou em escolas particulares e sempre teve o melhor material escolar. De fato você é capaz, muito capaz!  Assim fica fácil, né!? “___ Mas, não é culpa minha professor”. Então, porque você se incomoda com as cotas? Sinal que presenciar não-brancos nas universidades te incomoda?! Pense nisso, você pode estar doente.

Tudo bem! Concordo numa coisa: eles são capazes. Mas, será que se você tivesse nascido sem esses privilégios você seria capaz? Não adianta capacidade sem oportunidade, sem alimentação, sem transporte, sem segurança, sem saúde, sem educação de qualidade. Afinal, capacidade de enxergar o outro como semelhante, respeitar seu jeito de ser e entender que ele ou ela também podem ganhar uma competição por esforço próprio é o que te falta. Causa espanto ver uma mulher que tem orgulho da origem ser médica, empoderada, ter autoestima? Caso você sinta alguma sensação negativa repense que ser humano você se tornou. Verás que a negritude brasileira não abandonará a prova. 



Confira cada produção acadêmica por meio das imagens (basta clicar na capa) abaixo:

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