Professor Francisco
Atualpa Ribeiro Filho
Colar, pescar, estacionar em
vaga proibida, furar fila, sair de fininho para não pagar a conta, dar um
jeitinho em tudo. Essas e outras atitudes se tornaram corriqueiras aos
brasileiros e ainda concluem ao se darem conta que estão errados com a máxima
fatalista: “é assim mesmo”. O que é abismal nesse posicionamento consiste no
sentimento de normalidade ao praticarem uma transgressão. Com isso, cabe
refletir em que se respalda essa conformidade em atitudes que ferem a moral.
Crianças e jovens crescem
absorvendo maus exemplos da calamitosa construção da República Federativa do
Brasil desde a cobrança injusta de impostos até os desvios exorbitantes de
verbas destinadas à saúde, educação, esporte e cultura. Desse modo, a edificação
do caráter fragmenta-se com os modelos históricos, pois se considerarmos apenas
a partir da Proclamação da República (1889) em diante são dezenas de fatos que
envergonham e desonram a Terra de Santa Cruz.
Brasileiro e malandragem
tornaram-se sinônimos. Nesse sentido, sempre arrumam um jeito de se dar bem em
tudo. A prática moral do brasileiro está envenenada desde a sua idealização,
tendo em vista a sua vontade eivada de vícios. Conforme a ética kantiana uma ação
para ser moralmente boa deve partir da vontade livre e desprendida de qualquer
pretensão que não seja a realização do ato.
Elisa Lucinda em seu poema “Só
de Sacanagem” reflete sobre a corrupção como um problema cultural e indigna-se
com o olhar tranquilo que os brasileiros possuem ao cometerem violações com o
seguinte verso: “deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba, é
inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de
Portugal” como se não houvesse outra alternativa. Pois, mesmo que alguém tente
ser honesto, esse deve enquadrar-se no esquema.
A corrupção no Brasil burocratizou-se,
haja vista a incapacidade de ser honesto, tornando-se mais cômodo fazer caixa
dois, superfaturar notas, pegar um “atalho”. Por isso, entranhou no espírito de
um povo que ainda não rompeu essa barreira da submissão à cultura da
desonestidade. Portanto, é papel intransferível da família cuidar e preservar
valores como respeito, honra, honestidade caros e responsáveis por lapidar o
caráter do futuro cidadão.