sexta-feira, 3 de julho de 2020

Entre o doce e o amargo da vingança

Por Atualpa Ribeiro

Assisti um filme por tabela com minha esposa ela é muito boa em narrar histórias. Mademoiselle Vingança é longa fabuloso, mas vamos adiante quanto aos elogios quanto à atuação, técnica, música e uma dúzia de adereços que tornam o filme, isso mesmo, mais uma vez fabuloso. Ultrapassando as fronteiras aparentes do filme que consistem no machismo, na aversão à libertinagem, na apropriação maniqueísta pelos envolvidos na trama que nutre desejos e a imaginação libertinas, a película transpira todas essas nuances que um leitor apressado pode diagnosticar de pronto. No entanto, a própria vingança diante de uma cultura eclesiástica de valores que içam a sedução aparenta-se sutil em confronto com as artimanhas de Madame de La Pommeraye. Isso mesmo a madame arquiteta uma armadilha para vingar o gênero, pois, a vítima (senhor) havia destruído vidas femininas.


No desenrolar da trama, a atmosfera heterocêntrica é densa e hostil. Apesar das tentativas do Marquis de Arcis (vítima da vingança) se esquivar com um discurso dionisíaco, a ânsia impregnada no tecido social já havia capturado qualquer possibilidade de subversão e apologia, assim o desejo em possuir aquela ‘menina’ lhe era inerente. Ele não consegue disfarçar sua obsessão controladora. Todavia seu desejo quase que instintivo asfixiava a própria ideia do filme, ou seja, executar um plano de vingança contra o estilo normal de idolatrar o homem e seus hábitos neandertais, estampando ao final do projeto para a sociedade quem de fato era aquele boêmio ou como os homens tratavam as mulheres (Madame de Joncquières e sua filha, que La Pommeraye contratara para executar sua). Ledo engano!


O trio feminino se esfacela diante desses enraizamentos, dessa ideia que embora esteja aberta, torna a apresentar fissuras prestes a estourar e jorrar lagrimas, mas “o que importa se tem um homem para me sustentar? Fui traída por uma das minhas companheiras, por àquela que propôs a vingança, é melhor eu acreditar no amor dele do que acreditar em uma ideologia egoísta?” Foi essa a impressão que tive ao final do enredo a minha maior incentivadora. Ela discute, planeja, determina tudo até como devem se comportar. “---Você não quer se vingar e dar uma lição naqueles que te humilharam? --- Quero sim, mas ele já nos deu muito dinheiro. Acho que está bom! --- Não pense pequeno!” Elas aderiram ao plano da madame, entretanto o ideal do filme se fragmenta devido o ranço machista e devido a possibilidade de possuírem um lar, conforto. O ideal não se faz presente na vida e muito menos na rotina dessas mulheres, foram consumidas por uma vivência submissa e devotada ao lar.

A vingança se tornou um engodo, ou seja, com o dinamismo das cenas observa-se que a própria protagonista, uma mulher ressentida, divorciada, solitária, com ar de superioridade acaba sendo alvo dos próprios estratagemas. Mostra, com isso, o quão difícil é romper com certos paradigmas sociais. As mulheres acabam subservientes a um homem e mais uma vez são consumidas pelo padrão familiar que a época as impôs.




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