Por Atualpa Ribeiro
Assisti um filme por tabela com minha esposa ela é muito boa em narrar histórias. Mademoiselle Vingança é longa fabuloso, mas vamos adiante quanto aos elogios quanto à atuação, técnica, música e uma dúzia de adereços que tornam o filme, isso mesmo, mais uma vez fabuloso. Ultrapassando as fronteiras aparentes do filme que consistem no machismo, na aversão à libertinagem, na apropriação maniqueísta pelos envolvidos na trama que nutre desejos e a imaginação libertinas, a película transpira todas essas nuances que um leitor apressado pode diagnosticar de pronto. No entanto, a própria vingança diante de uma cultura eclesiástica de valores que içam a sedução aparenta-se sutil em confronto com as artimanhas de Madame de La Pommeraye. Isso mesmo a madame arquiteta uma armadilha para vingar o gênero, pois, a vítima (senhor) havia destruído vidas femininas.
No desenrolar da
trama, a atmosfera heterocêntrica é densa e hostil. Apesar das tentativas do Marquis
de Arcis (vítima da vingança) se esquivar com um discurso dionisíaco, a ânsia
impregnada no tecido social já havia capturado qualquer possibilidade de
subversão e apologia, assim o desejo em possuir aquela ‘menina’ lhe era inerente.
Ele não consegue disfarçar sua obsessão controladora. Todavia seu desejo quase
que instintivo asfixiava a própria ideia do filme, ou seja, executar um plano
de vingança contra o estilo normal de idolatrar o homem e seus hábitos neandertais,
estampando ao final do projeto para a sociedade quem de fato era aquele boêmio ou
como os homens tratavam as mulheres (Madame de Joncquières e sua filha,
que La
Pommeraye contratara para executar sua). Ledo engano!
A vingança se tornou um
engodo, ou seja, com o dinamismo das cenas observa-se que a própria protagonista,
uma mulher ressentida, divorciada, solitária, com ar de superioridade acaba
sendo alvo dos próprios estratagemas. Mostra, com isso, o quão difícil é romper
com certos paradigmas sociais. As mulheres acabam subservientes a um homem e
mais uma vez são consumidas pelo padrão familiar que a época as impôs.
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